quarta-feira, fevereiro 02, 2005

proj.: O designer de comunicação como mediador de conhecimento

Miguel Januário

Qual seria o efeito na sociedade se as imagens gráficas, de repente, deixassem de existir? Se a comunicação gráfica desaparecesse, se os seus objectos, símbolos e signos que fixamos na nossa memória e nos amparam no caminhar diário neste labirinto de informação, a mesma que nos permite pensar que temos os pés assentes na terra, sumissem? Se não deixasse de existir, mas, por outro lado, ganhasse formas sobre as quais não temos conhecimento ou habituação ou proximidade, ou então se essa comunicação fosse alterada e/ou trocada de lugar, entrando em confronto com uma já existente que, no fundo toda igual, mas devidamente seleccionada e objectivamente construída e determinada, acabasse por nos baralhar, nos confundisse por alteração, nos deixasse, nem que por breves momentos, perdidos num mundo que nós próprios desenhamos, numa realidade visual que nós construímos e da qual dependemos, como se tratasse, não duma droga, mas do ar que respiramos? O desaparecimento de todo o objecto gráfico de informação ou uma alteração drástica de um modo global, no sentido conceptual e visual deste, levaria a humanidade a um verdadeiro caos, tão destrutivo, do ponto de vista evolutivo da sociedade, como a destruição causada por uma grande guerra (sendo a própria informação que desta poderia surgir, pela sua adulteração institucional, já por si igualmente destrutiva...). São infinitos os objectos gráficos dos quais a sociedade depende, nos quais estabelece os próprios alicerces do seu funcionamento, da sua existência e sobrevivência como tal (a economia e o mercado, o neo-liberalismo, as “democracias”, a educação, o desemprego, a bolsa, o dinheiro, as cotações, as transacções, a publicidade, a imprensa e a televisão, a própria rádio, as instituições, a autoridade, as fronteiras, o mundo…). Mas esta ordem comunicacional, este universo linguístico infindável de sistemas e signos e imagens, não é, apesar de tudo um campo de livre acesso ou exposição. Os limites culturais estabelecem importantes fronteiras e barreiras que são determinantes para o correcto funcionamento de uma linguagem gráfica (e não só) específica. Sejam estes “obstáculos” de ordem cultural, ideológica, geográfica, legal, religiosa, morais e éticos… Ainda assim, o objectivo egocêntrico e vaidoso (próprio da criação) da comunicação gráfica, posteriormente comprado, aliado à necessidade humana de direcção e distinção, próprio de um ser auto-denominado inteligente, que sente necessidades quase fisiológicas de condução (como é exemplo a religião ou o futebol), procura a maior expansão possível, e, apesar de estabelecer, por diversas razões naturais, públicos e objectivos distintos e particulares, quanto maior a projecção, melhor concretizada é essa comunicação, claro está se a despirmos de veracidade ou falsidade, o que quer que isso seja realmente. Claro que neste campo, reina o vale-tudo, pois nunca podemos esquecer que tudo aquilo que “lê-mos” nos é imposto, seja por obrigação, seja por selecção, seja pelo simples facto que, maioritariamente, só vemos aquilo que há para ver… O designer de comunicação funciona assim como o agente mediador de conhecimento e passagem, em relação ao que se sabe, é ele que arranja o modo de dizer, é ele que veste a informação, a maquilha. É o desenhador das simbologias e dos significados, do ir para a esquerda ou para a direita, faz-nos girar a cabeça se for preciso, entrar e sair onde devemos. Pode também, simplesmente, fazer-nos entrar na casa de banho errada.

Assim, aliando a minha experiência no campo do graffiti e da street art, ao que aprendi nos cinco (seis) anos no curso de design de comunicação da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, devidamente pago ao estado português, o qual irá ainda ganhar posteriormente com a minha formação, por encargos fiscais da minha profissão, irei assim, em total consciência, com o uso de diversas intervenções distintas em espaços públicos, principalmente de rua, alienar, distorcer, adulterar, subliminar objectos gráficos importantes na nossa deambulação diária. Vou procurar, de um modo diversificado nos meios e nos fins, abanar uns, chocar outros, confundir, mostrar o quanto as pessoas, por vezes, dependem de um número, de meia dúzia de letras estrategicamente colocadas num determinado lugar, a importância de uma direcção, do apontar de um dedo (tão incorrecto), o quanto choca o grande ou o pequeno, utilizando, seja a imagem megalómana ou um simples ponto…
Pretendo que estas intervenções não passem despercebidas, que sejam notadas e que realmente ganhem um impacto inteligente em relação a muitas das intervenções já existentes, que não morram facilmente perdidas porque são efémeras, seja no que dizem, no que contestam, no que mudam ou no modo como se realizam, mas que ganhem no tempo guardados ou perdidos numa qualquer memória, numa qualquer consciência, num atraso, num dia ganho ou perdido…

É minha intenção apresentar o trabalho em formato vídeo, o qual será um resumo visual de todas as acções por mim realizadas. A fotografia poderá também vir a ser um meio utilizado.

fbaup, janeiro 2005