sábado, maio 21, 2005

O "Monstro" da Publicidade

Joana Mafalda Martins

“A publicidade promete sempre a mesma coisa: o bem-estar, o conforto, a eficácia, a felicidade, o sucesso. Faz cintilar uma promessa de satisfação. Vende sonhos, propõe pequenos simbolos para uma rápida ascenção social. Fabrica desejos e apresenta um mundo em férias permanentes, descontraído, sorridente e negligente, povoado de personagens felizes e enfim possuidoras do produto-milagra que as tornará bonitas, prósperas, livres e saudáveis, desejadas, modernas, …”
Le Monde Diplomatique – Maio 2001

Quando iniciei o meu estudo sobre publicidade, logo me apercebi que é uma actividade vista com desconfiança e considerada mesmo, por alguns, como um mau serviço prestado à sociedade: é “ao mesmo tempo veículo ideológico e técnica de persuasão” e “sabe enfeitar-se com os melhores acessórios da sedução, mobilizando todos os recursos da estratégia do desejo sob todas as suas formas”, ou seja, um instrumento de persuasão destinado sobretudo a levar os consumidores a gastarem o seu dinheiro em bens de que não necessitam.
Definitivamente não concordo com esta visão redutora da publicidade e da sua influência maléfica no seio da sociedade. Entendo que se trata de uma actividade profissional respeitável e indispensável para que os mercados funcionem de uma forma competitiva e transparente, fazendo com que os preços sejam mais reduzidos e a qualidade dos produtos mais elevada. Os consumidores não são uns seres sem cérebro nem vontade própria, que caem facilmente em qualquer “história” que lhes é contada. É claro que, como em todas as actividades, existem profissionais menos dignos que se aproveitam dos consumidores que consideram mais vulneráveis ou menos esclarecidos. A publicidade enganosa, por exemplo, é severamente punida por lei e sobretudo pelos próprios consumidores que, deixando de comprar o produto, podem mesmo levar a marca à falência. Há limites que não podem nem devem ser ultrapassados e, para que tal não aconteça, existem leis e normas que devem ser respeitadas: a publicidade deve ser lícita, não deve incitar à violência, não deve atentar contra a dignidade humana, não deve promover formas de descriminação, deve ser inequivocamente identificada, deve respeitar a verdade e os direitos dos consumidores.
Em minha opinião, não vem mal algum ao mundo pelo facto de as pessoas sonharem, muito pelo contrário. John Burn, o pai do movimento trabalhista em Inglaterra, costumava dizer que a grande tragédia da classe trabalhadora era a pobreza das suas ambições. Ninguém quer incitar ninguém a ter uma vida miserável, sem sonhos nem ambições. O gosto por uma vida melhor - função que a publicidade cumpre muito bem – é o que faz o Homem evoluir. Acho mesmo ridícula a ideia de que as pessoas têm de se precaver contra o “monstro” da publicidade, pois à partida o seu propósito não é enganar, nem apenas ressaltar o lado mais fútil da vida. Aliás, nesta como em outras áreas polémicas, a chamada “consciência social” tem-se revelado cada vez mais interveniente, sobretudo para dar luta à crescente valorização do poder do dinheiro sobre a condição humana. A sociedade está atenta, cada vez mais consciente e informada.
Iniciamos a travessia de uma época de mudança. O facto de o consumidor receber cada vez mais informação publicitária, obriga-o naturalmente a ser mais selectivo, o que se repercute nas suas exigências em termos de qualidade de vida, criando novas preocupações sociais e ecológicas. Visto que a publicidade é em parte um espelho dos desejos da grande maioria da sociedade, tenho esperança que exerça alguma influência na mudança da conduta da mesma. Sempre achei que não é destruindo ou atacando indiscriminadamente que podemos obter os melhores resultados. É educando e alertando que se consegue a diferença. O mal não está na publicidade. A sociedade é que tem que ser educada e consciencializada para os verdadeiros valores da humanidade e do mundo em que vivemos. A publicidade como sempre, vai seguir as tendências dos pensamentos e não podemos negar que é um meio privilegiado para espalhar a mensagem, basta que seja esse o verdadeiro desejo do consumidor.