segunda-feira, janeiro 31, 2005

Projecto:como o espectador age/reage perante novas formas cinematográficas?

Alexandra Ribeiro

Manifesto de (possíveis) intenções para o projecto de fim de curso

Umas costas curvadas. Uma nuca irriquieta, hesitante. Uma respiração ritmada por un nervosismo contido que nos incomoda, que nos agita, que nos prende. Apenas ela e a sua hesitação.
Sem saber por onde começar, não vejo uma melhor opção do que descrever uma cena do filme “A Pianista” do realizador alemão Michael Haneke. Numa cena de uma intensa, mas contida dramatização, a actriz Audrey Hupert coloca-se, após determinado tempo de acção, de costas voltadas para a cãmara. Apenas vislumbramos por alguns instantes parte do seu rosto. Toda a intensidade da acção e da representação está situada na tensão demonstrada na sua nuca hesitante e irriquieta. O impacto daquelas costas voltadas para nós, acompanhado da total ausência de artifícios, leva a tensão da cena a um nível sustentado apenas por uma brilhante representação.
Numa primeira visualização do filme talvez não seja notada a ausência de Banda Sonora num filme onde a música é patente e se não parte protagonista do tema do filme, pelo menos com bastante contributo para tal. Sabemos que cada cena incomoda, que cada cena e cada personagem nos liga de um modo estranho a um mundo por certo diverso do nosso. Sentimos os diferentes estados de espírito das personagens de um modo próximo e sufocante. Porquê num filme onde naturalmente esperamos que haja música ela aparece somente no seu estado mais natural e puro, ou seja, enquanto acção desenvolvida pelos actores? Porque é exactamente no estado puro que o realizador Michael Haneke, pretende que as suas personagens sejam sentidas pelo espectador. Numa entrevista dada onde se aborda este mesmo assunto, o realizador fala sobre o impacto da música no meio cinematográfico, e como esse mesmo impacto pode ser a escapatória para muitos filmes de qualidade cinematográfica ou de representação duvidosa, deixando a representação visual para um segundo plano de importância.
O esforço representativo que cada actor faz para que as suas emoções sejam transpostas do ecrã para o público demonstra uma forma diferente de cinema. Um cinema mais puro, mais pessoal, mais emotivo. No cinema Europeu esta modalidade tem ganho cada vez mais adeptos, como o caso de realizador Lars von Trier e com um dos percursores do cinema Dogma 95, o falecido cineasta Stanley Kubrick.
Manifestando um (possível) desejo de integrar estas reflexões num projecto, gostaria de abordar como o espectador age/reage perante novas formas cinematográficas, mais puras ou mais digitais. A procura de novos formatos, de novas representações, de novas formas de narrar uma história, assim como a integração do espectador enquanto agente participativo de forma mais directa ou menos, passam igualmente por pontos a reflectir e a desenvolver no meu projecto, com uma referência clara ao cinema Dogma 95 e aos seus sucessores.
Não querendo vincular-me a um projecto pensado sem grande reflexão, apenas com um gosto especial ligada à área, termino assim estas minhas possíveis intenções.
FBAUP janeiro 2005