sexta-feira, abril 29, 2005

“História Visual do Nosso Tempo”, baseado no exemplo de Joe Gould

PMicaela Amaral
Questionar e reflectir o estatuto da fotografia no âmbito artístico e cultural;
Redefinir o futuro do papel da fotografia nas práticas contemporâneas de representação;
sombras_mica
Resumidamente, é nestas duas frases que se baseia o conceito do meu projecto neste momento. Com uma vertente teórica bastante acentuada, foi criado o livejournal com o intuito de desenvolver e servir de apoio ao projecto, contendo reflexões minhas sobre este tema e o modo como se relaciona com a actividade do designer, citações da bibliografia consultada, assim como imagens de acompanhamento ao texto.
Após a leitura de livros, revistas, ensaios de fotografia, começo por enumerar algumas palavras-chave relacionadas com o tema: a memória, o ‘conservar o momento’, o souvenir, o revisitar, a cumplicidade, a intenção, a manipulação, a “aquisição de consciência”; estes são só alguns exemplos.
Em suma, o que pretendo, é que se reflicta sobre o modo como vemos e entendemos a fotografia, assim como Joe Gould questionou de certa forma o conceito de História que é de senso comum. Para isso, senti a necessidade de produzir imagens/fotografias que reflectissem esse carácter – o de questionar a própria fotografia – para um estudo mais coerente e conclusivo.
Comecei por me interessar por produzir imagens em que a presença do fotógrafo (neste caso, a minha) fosse excessiva na fotografia, seja pelo enquadramento, seja pela própria sombra que invade a imagem, assim como evidenciar uma espécie de ‘incidentes’ durante a sessão, como o aparecimento do dedo, dos cabelos, etc.
Estou também recentemente a trabalhar com uma máquina Lomo (Holga), e tenho-me apercebido de como permite uma total liberdade para puxar o rolo de forma descontinuada, ou seja, com intervalos diferentes entre as fotografias (ou mesmo sem intervalos) podendo deste modo ‘abusar’ da sobreposição. Supostamente, o resultado final de um rolo será apenas uma imagem contínua, de uma sequência de acções sem intervalo. Pretendo por isso, experimentar a máquina neste sentido.
Pretendo para além disso, (e neste caso com vista na exposição final) experimentar e testar o próprio suporte, o papel fotográfico, com o fim de questionar o conceito de ‘conservar o momento’ acima referido. Depois de sensibilizar o papel com uma imagem (ainda por definir), não o vou fazer passar pelos químicos revelador e fixador, deixando a luz natural encarregar-se da contínua revelação. O que se pretende aqui, é que a imagem tenha um ‘tempo de existir’, que passe do branco total até ao quase negro, em que o ‘estar entre’ seja uma imagem em construção, em constante mutação, contrariando a ideia pré-concebida de que a fotografia é uma imagem fixa, congelada e estanque. Outro factor importante, é o facto das condições de luminosidade do espaço onde a imagem for inserida, interferir de forma directa de como se desenrolará a revelação e consequentemente do tempo de duração da mesma, assim como o tipo de papel utilizado, sendo o dito de ‘fibra’ para uma revelação mais rápida e o ‘prata’ para mais lenta.
O que proponho é controlar este processo, para que se desenrole sensivelmente no tempo de duração da exposição.