O PRIMEIRO CINEMA
Alexandra Ribeiro
Memóriabril
O CINEMA ESTÁ MUITO GASTO. TODOS OS PROCESSOS, TODAS AS VIRTUOSIDADES TÉCNICAS ESTÃO CANSADAS. PENSEI NISSO AO FAZER AMOR DE PERDIÇÃO E RESOLVI REGRESSAR AOS PRIMÓRDIOS, VOLTAR AO PRINCÍPIO, COMO SE FOSSE O PRIMEIRO CINEMA ( O PRIMEIRO CINEMA ERA MAIS PURO)
Manoel de Oliveira em CASHIER DU CINEMA, 1988
As sociedades modernizadas estão neste momento submersas por referências do cinema comercial, mais especificamente do mainstream de Hollywood. O cinema desde o seu aparecimento chegando aos dias de hoje, tem vindo a ganhar uma importância e adeptos como nenhuma arte actualmente parece possuir. A ominipresença da sétima arte nos mais variados campos do audiovisual, e não só, deve-se à sua massificação, que parece resultar com o aparecimento de tecnologias como o vídeo (e o dvd). A possibilidade de manipular a imagem deixou de ser feita apenas pela montagem original da responsabilidade do realizador e montadores, passando, o espectador, a ser interviniente activo nessa manipulação. O fluxo de imagens deixa de ser contínuo para passar a ser o que o espectador quiser pelo simples carregar das teclas rewind, forward.
Grupos de artistas têm vindo a repensar o cinema numa outra perspec-tiva. Procuram envolver o espectador não por processos narrativos de ficção banhada por uma realidade, mas por dar espaço para que encontre a sua própria posição perante novas formas cinematográficas.
L’AVVENTURA de Antonioni foi o primeiro filme onde o autor preteriu a narrativa a favor de uma autonomia de outros elementos, tais como o plano, o som, a cenografia, a mise en scène, a fotografia, etc . Ao colocar a questão da primacia da narrativa, relegando-a para um plano de fundo, deixando de ser o centro do filme, quebrou com uma das mais básicas questões da gramática do cinema.
Godard foi outro nome que procurou investigar e radicalizar o uso das várias técnicas cinematográficas visando a construção de umaestruturas e gramáticas resultantes da violação, ou transformação da linguagem cinematográfica clássica.
Numa fase prática, a minha pesquisa passa pela:
_ apropriação de imagem;
_ manipulação de imagem e som;
_ desconstrução da continuidade narrativa.
Percorrendo o cinema português, desde os seus primórdios até ao cinema actual, o meu projecto centrar-se-á na história, estética e cultura cinematográficas portuguesas. Um interesse pessoal que resulta de uma vontade de conhecer com mais pormenor a nossa história do cinema, assim como os tiques, as fórmulas e imagens que marcam a nossa cultura nesta área — não descartando qualquer posterior vontade de incorporar no meu projecto filmes estrangeiros que considere na altura relevantes.
Nesta primeira fase escolhi dois filmes do cinema português clássico: A menina da Rádio e O Grande Elias, de Artur Duarte.
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