sexta-feira, abril 22, 2005

Experiência da viagem – da partilha e da liberdade

Projecto ANA RITA COELHO (ABRIL)
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Embora neste momento o projecto se encontre com as devidas alterações decorrentes após o fórum de Abril, este era o documento que sintetizava um pouco o meu trabalho até a essa altura. Neste momento, o trabalho, a nível teórico, encontra-se bastante mais desenvolvido, no entanto, aqui, é apresentada uma síntese.

Uma vez que este 5º ano é o momento indicado para fazer uma reflexão àcerca daquilo que nos move não só a nível profissional, artístico e cultural, como também a nível social e, mesmo, íntimo, optei por neste momento do projecto realizar uma hipernarrativa passível de ser partilhada (pela sua publicação em CD-ROM, ou pela sua publicação na Internet) e que espelhe, conforme aparece estruturado em diagrama no meu dossier digital, os conceitos que, para mim são importantes: partilha, amor, viagem, memória; através do mundo do som e do vídeo.

Questões como a partilha, o amor, a viagem são de uma importância fundamental para o ser humano. Mesmo que escondida por baixo de um verniz civilizacional, toda a procura interior que se faz pela viagem, pelo contacto com os outros, pela própria contemplação da paisagem (mediada), pela busca da felicidade e liberdade, continua a ser de grande relevância na nossa vida de "bárbaros civilizados". (Segundo a expressão de Lewis Henry Morgan.)

Um outro ponto de grande relevância é a ligação deste projecto às tecnologias digitais.

Pode levantar-se a questão: ao pretender chamar a atenção para questões fundamentais da vida das pessoas, como a interacção em grupo, as necessidades de afiliação, de amor, até de prestígio, enfim, essas questões não entrarão em conflito com o facto de o trabalho ser uma hipernarrativa e por isso estar inserido no ambiente artificial do computador?
Para além de ser meu intento criar uma estrutura sonora e imagética para um local em específico que não o do computador, ou seja, pensando num objecto para uma exposição, (cuja matriz são os mesmos conceitos da hipernarrativa) tenho a argumentar, no entanto, que aquele ambiente digital é criação do Homem e extensão dele. Criar ou dar a conhecer, por outro lado, significa também mediar:
"We are constantly adjusting our personal World map based on second-hand information. (...) I have no direct experience with Gregor Mendel's pea experiments, I have not been to Patagonia, I have never met Freud or Frost; and yet I know of them -- words and images concerning them are part of my world map. Most of what we know is prepared, screened, somehow processed for us." ( 1)
O computador como meio e a World Wide Web, foram criados pelo ser humano e, como tal, espelham parte das suas inquietações e características. A “WWW” nasceu da necessidade de criar fluxos de partilha de dados.
Uma vez que um dos elementos fulcrais envolvidos no projecto é o meio do vídeo, apresento, por último, um excerto d'O Olhar de Ulisses -- O Homem e a Câmara (edição Porto 2001, pp. 48,49) que resume exactamente o que penso da relação do registo vídeo com a experiência da viagem – da partilha e da liberdade – e o acto criativo.

"(...) o homem da câmara começou a sua travessia do mundo. (...) Sem o auxílio do olho ciclópico da câmara, o mundo ainda não existiria com toda a sua luz, essa luz não seria criadora, a parte da sombra, como a do sono, triunfaria sempre."


(1) Poggenpohl, Sharon H., "Secondhand Culture", Society of Typographical Arts Journal, 1988, in Looking Closer, Nova Iorque: Allworth Press, 1994, p.143