quinta-feira, fevereiro 24, 2005

Projecto pessoal - versao 2

Pedro Sá

O projecto é composto por dois grandes momentos, a que correspondem dois temas principais que iram integrar um objecto final, quer como tema, quer como forma. O primeiro é todo um processo de criação de imagens: a fotografia como base na construção de novas realidades, novas imagens. O segundo, a hipernarrativa presente na construção e forma de estruturação do objecto final bem como tema em si.

O projecto terá como ponto de partida dois trabalhos realizados no 4º ano de fotografia. Estes projectos, mais do que a representação fotográfica de uma qualquer realidade, visam um principio de criação. A criação de novas imagens. Realidades inexistentes num mundo real, não representando nenhum lugar geográfico específico. A sua realidade e existência palpável apenas o são na presença física do suporte impresso ou do monitor. Criação de ficção com base na realidade.
Para uma compreensão e contextualização destes dois trabalhos que estarão na base deste projecto, farei uma sumária descrição dos mesmos:
No primeiro, o processo de criação inicia-se a partir de uma fotografia digital. Com base no seu elemento indivisível: o ponto de cor “pixel”, é retirada à fotografia uma tira horizontal com a largura mínima desse elemento. É esta a matéria para a construção da nova imagem. Este pequeno elemento horizontal é justaposto lado a lado milhões de vezes e criará a nova imagem. O resultado é a criação de uma série de paisagens, que partem de uma ínfima parte do real, ou pelo menos de uma representação do real, para construir algo novo. Esta nova realidade que não existia até então, já estava de certa forma contida no original, criando aqui uma situação paradoxal de algo que não é realidade mas está nela contido.
O outro projecto tem em comum com o primeiro a criação de novos espaços. Espaços não reais, incorpóreos, com existência apenas na imagem. Esta ficção de um espaço real parte também de uma fotografia. Uma porção do original será o ponto de partida, e a utilização a simples recursos como a inversão, espelho e rotação da imagem, são os princípios da criação deste novo espaço que pretende afastar-se da fotografia inicial e de qualquer significação desta, sendo agora uma nova realidade.
Por desejo de organização pessoal e aproveitamento do período destinado à elaboração deste projecto, e uma vez já defenida a tipificação do mesmo, criei uma metodologia processual que define um planeamento e organização do trabalho que assenta em três momentos principais:
1 – Com base nos trabalhos de criação de imagens já realizados irei procurar e testar novas possibilidades.
Este momento inicial é assumidamente práctico, procurando produzir aqui o maior número de resultados. De entre estes resultados estará a matéria para a construção do projecto.
2 – Perante os resultados obtidos na primeira fase, este segundo momento será caracterizado por uma análise e avaliação desses resultados, considerando a sua pertinência tendo em conta a articulação destes resultados na fase final do projecto, e a qualidade que cada um possa ter ou não.
Este momento de análise do trabalho desenvolvido no primeiro ponto será combinado com a procura e pesquisa de referências numa “análise de realidades exteriores” que lhe sejam próximas, investigando-as, para criar uma melhor compreensão do sentido deste projecto, e em último, da importância da imagética no discurso e na práctica do designer.
3 – Num momento final, perante uma série de resultados criados e devidamente analisados nas anteriores fases, será criado um objecto final que irá conter esses mesmos resultados. Este não será um simples “catálogo” dos trabalhos realizados, mas sim o trabalho em si. É a criação de um objecto potenciador da compreensão do processo de criação das imagens, e da fruição das mesmas.
O objectivo final do projecto é a construção deste objecto. Estruturado como hipernarrativa, segundo uma dinâmica de associações, conexões, ligações entre os múltiplos elementos que a compõem, terá a sua existência em suporte digital. É um objecto gráfico sustentado por uma formação em rede, dando ao utilizador a possibilidade de uma interacção com os conteúdos.
Pretendo assim a criação de um objecto que potencialize a discussão do processo de produção de conhecimento, entendido no sentido de “uma nova visão do mundo, compatível com a abordagem da complexidade.”
Fev.2005