segunda-feira, janeiro 03, 2005

Crítica e Investigação em Design.

Nas últimas décadas temos assistido ao emergir de uma definição do Design de Comunicação enquanto conjunto dinâmico de obras de autor. Esta definição é francamente distinta de modelos anteriormente adoptados em que o Design assumia como vocação a aplicação, em larga escala, de estéticas e modelos, esses sim desenvolvidos por referências centrais. O culto (e a cultura) da originalidade no mundo ocidental a partir de meados do Séc.XX transformaram cada criativo num universo munido de leis próprias e autónomas, subscrevendo, mesmo que subliminarmente, o paradigma Warholiano dos "quinze minutos de fama"...

Em simultâneo, o surgimento da consciência social individual como fenómeno popular (ou mesmo "pop") tem vindo a ditar que o designer admita um grau de responsabilidade sobre os objectos de comunicação que lança ao mundo. Sendo uma profissão mediática por natureza, o Design está particularmente bem situado para tomar o pulso à comunicação de massas - e, consequentemente, a determinar as leis e a ética dessa mesma comunicação. A prevalência da cultura digital e do online publishing têm vindo a isentar o Design da obrigatoriedade de se traduzir em objectos tangíveis, mas em troca exigem-lhe espírito crítico sobre os seus próprios procedimentos. É este espírito crítico que esta área do quinto ano pretende analisar e desenvolver.

Por sua vez, o espírito crítico no Design de Comunicação pede uma sustentação conceptual que vá além de preocupações de gosto individual ou sensibilidade pontual. Mais do que decidir o que quer fazer, o Designer precisa de se preocupar com o que precisa de ser feito - a equação é semelhante mas o fluxo é o oposto: a primeira propõe a visão potencialmente autista do criador, enquanto que a segunda parte das realidades exteriores a quem cria e propõe que o criador se defina antes de mais como veículo, como agente gerador de empatia.

A análise de realidades exteriores que sustentem a prática do Design é uma forma de investigação, comparável aos modos de investigação das ciências e humanísticas, e é sistematizável tal como estas o são. Em 1993, Christopher Frayling propôs três pontos de partida para esta sistematização: Investigação sobre Design (a teoria como prática, o meta-Design como forma de Design); Investigação através do Design (a prática gerando teoria); e Investigação para o Design (em que a prática e a teoria se tornam num só modo indissociável). Será mediante a pormenorização deste cânone triangular de base que os alunos poderão realizar o seu trabalho, mas, mais decisivamente, desenvolver a consciência e a legitimidade desse mesmo trabalho.

Heitor Alvelos
FBAUP, Janeiro de 2005