segunda-feira, novembro 22, 2004

Urban Pioneer Project

O interior do frigorífico diz muito sobre a personalidade do seu dono. Uma prova de celulóide? Marilyn Monroe guardava a roupa interior no congelador em "O Pecado Mora ao Lado" e, de facto, não havia vizinha mais escaldante no húmido Verão de 1955 do que aquela loira. Este é um dos princípios do Urban Pioneer Project, que tempera os perfis dos jovens que agrega com fotos do seu frigorífico, mas também da sua sala, do armário dos medicamentos e do seu restaurante ou bebida preferida. São algumas das coisas que têm em comum milhares de alvos de uma experiência cujo objectivo é cristalizar a energia muito especial que há em viver numa cidade e ter uma mente criativa.
O mentor do projecto e Pioneiro 001, Andrew van Hook, acha importante que os pioneiros como ele saibam pequenos detalhes da vida de cada membro. Fazer parte do Urban Pioneer Project (UPP) é um bilhete para entrar num espaço de "voyeurismo" com uma desculpa: todos têm de partilhar.
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Montam projectos, mostram o seu trabalho, trocam ideias e, como se escreve no mostruário "online" (em www.urbanpioneerproject.com), gera-se espontaneamente uma perigosa concorrência a outros magazines. Os Pioneiros Urbanos, quando se revelam e ao seu trabalho, sabem o que mexe e o que é "cool" "muito antes de as novidades aparecerem na tua revista brilhante". É que tal como na moda, o que se passa nas ruas precede largamente o que se passa nos cérebros dos criadores mais instituídos. No UPP, isso prova-se no início de tudo. O Urban Pioneer Project encetou a sua divulgação com cartazes simples com fundo de uma única cor e com silhuetas de homens ou mulheres a branco, ou vice-versa. Espalhados pelas tais zonas da cidade escolhidas pelas almas mais dinâmicas para viver ou conviver, estavam em Manhattan, Brooklyn, e também em Copenhaga, Berlim, Joanesburgo ou Tóquio em pouco tempo, graças aos pioneiros recém-aderentes que abraçavam a missão de divulgar o projecto nas suas urbes.
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Para ser membro, "qualquer pessoa pode candidatar-se, mas não podemos aceitar toda a gente para o projecto", sob pena de se tornar disperso e de os participantes não se identificarem uns com os outros. "Por isso, para mantermos a nossa experiência precisa, não incluímos participantes de pequenas cidades e zonas rurais. Mas encorajo alguém a começar um 'Rural Pioneer Project'!", incita o mentor.
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Os participantes lucram de várias formas ao entrar nesta comunidade de acesso limitado. Podem mostrar o seu trabalho a outros que, como eles, se revelam "online" e descobrir parceiros para projectos futuros. E, como bónus, "têm a oportunidade de registar os seus pensamentos e excertos das suas vidas, que podem revisitar no futuro", alicia Andrew van Hook a partir de Nova Iorque. "Tornam-se uma pequena parte do registo histórico." Além disso, graças ao seu próprio valor, "os pioneiros com perfis atraem muitos visitantes para os seus próprios 'sites' e tornaram-se pequenas celebridades na sua comunidade".
Para espreitar a vida destes motores citadinos, é ver o número 2 da revista do projecto, que está "online" e usa as maravilhas da Internet para ser um suporte multimédia de exposição dos trabalhos dos protagonistas. Podemos ver a música, os quadros, a loja, os videojogos, a marca de roupa ou as entrevistas a alguns dos pioneiros e os resultados do concurso de "T-shirts" do UPP, um espelho do que vai nas cabeças de pessoas de todo o mundo e em que George W. Bush e o sexo são uma assombração constante.
A cooperativa abre uma porta para o trabalho de pessoas que, de outra forma, dificilmente se conheceriam e que só em circunstâncias improváveis colaborariam entre si. Volátil como uma experiência química, assenta em fundações virtuais e pressupostos igualitários que, quando se aplicam a um grupo populacional disperso e heterogéneo, juntam água e azeite. Usa a Internet para saltar fronteiras e serve-se de todas as suas potencialidades para construir um edifício babélico que tem tanto de mostruário quanto de cápsula do tempo, mas quer seguir tão longe quanto as estradas da informação permitirem.
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O Urban Pioneer Project tem cinco fases de execução. Encontra-se actualmente na segunda. Mas, no mesmo espírito que os define, o que isto significa e o que reserva o futuro para estes jovens agitados é um mistério. "Têm de esperar para ver."

Extractos de artigo "Criativos Os Pioneiros Urbanos Querem-no na Sua Lista de Alvos a Manter", de Joana Amaral Cardoso
Publico, 21 de Novembro de 2004

Texto inserido no contexto da disciplina de Fotografia II (Adriano Rangel)